quinta-feira, 26 de abril de 2018

O Caderno

Ele era um garoto comum, era mais um a vagar em meio à multidão. Tinha sonhos, tinha amigos, tinha pai e mãe, e tinha a sensação de que seu lugar não era ali. E não era a cidade, não eram as pessoas, não era o curso da faculdade que estavam errados. Era ele que sentia falta de um sentido maior pra sua existência. Sentia que os dias passavam rápido demais, sentia que seu papel era no palco, mas não conseguia sair da plateia da própria vida.
E eis que indo pro estágio, no ponto de ônibus, surgiu um caderno, que parecia estar ali a sua espera, com as folhas a dançar ao ritmo do vento. Vou devolvê-lo ao dono, ele pensou, e ao folheá-lo em busca dos dados do proprietário, ficou impressionado com o que viu.
As páginas eram recheadas de fotos e reportagens de jornal, seguidas de uma data e de uma descrição breve. Eram visitas a orfanatos e hospitais, plantio de árvores e limpeza de rios, doação de sangue e de roupas, conscientizações sobre DST’s e sobre separação do lixo, capacitações sobre cidadania e liderança. As pessoas das fotos sorriam com roupas iguais, ilustradas por um leãozinho meio banguela.
Ele ficou encantado. Nunca havia visto nenhuma das pessoas, mas conhecia vários lugares das fotos. Eram da sua cidade, era um mundo de coisas que de certa forma o rodeavam, mas ele não conhecia.
Encontrou no final do caderno um nome e um telefone. Ligou e ninguém atendeu. Ao chegar em casa no fim do dia ligou novamente, e uma voz doce do outro lado da linha agradeceu muito por saber que seu caderno (que ela chamou de relatório) estava inteiro e seria devolvido. Marcaram para o sábado, na pracinha de um bairro da periferia.
Ao chegar lá ele reconheceu as pessoas das fotos, em meio a muitas crianças. Algumas seguravam balões, outras faziam pintura de rosto, outras cuidavam de brinquedos infláveis, e uma garota quase do tamanho das crianças distribuía algodão doce com o sorriso mais iluminado que ele já vira em alguém.
Ele foi andando entre as pessoas e quando se deu conta já estava na frente dela. A menina então o viu e veio em sua direção, olhos fixos no caderno que ele abraçava no peito. Presumindo que fosse dela, ele o estendeu. Notou na camiseta dela o mesmo nome de três letras e o mesmo leão banguela das fotos do caderno e sorriu.
Nos momentos seguintes ela o agradeceu, explicou o que faziam ali e perguntou se ele queria ficar para ajudar na entrega dos cachorros-quentes que estavam sendo trazidos pras crianças. E ele ficou. Por curiosidade, por não ter nada mais pra fazer em casa, pra olhar o sorriso da menina por mais tempo, e por que sentiu-se em paz em meio à bagunça daquelas crianças, como não sentia-se há muito tempo.
O dia passou rápido, ele almoçou ali e permaneceu até o sol se pôr. E quando todos começaram a recolher os brinquedos, ele sentiu-se triste. Não tinha vontade de voltar pra casa e pra rotina de estar na plateia de todo dia. Ali parecia ser o palco e ele queria continuar sendo protagonista. Fazendo aquelas crianças sujas e ranhentas sorrirem, ele descobriu-se empoderado, capaz de ser mais do que era. Sentiu-se parte de algo maior, intenso e bonito.
Pensava nisso enquanto afastava-se do grupo, até que alguém o chamou. Era a garota do caderno. Perguntou se ele estaria livre no domingo. Ele estava. Ele estaria livre em todos os sábados e domingos que viriam, se não fosse o convite dela pra próxima reunião, pra próxima campanha, e pra tudo o que veio depois disso.
Naquele dia ela ganhou de volta um caderno e ele ganhou um pin, um grupo novo de amigos, um sentido pra sua existência, e o sorriso dela como bônus.


C.LEO Margrid Geli Oliveira Vendruscolo
LEO Igrejinha 
01/12/2015

terça-feira, 10 de abril de 2018

Iguais. Diferentes. Únicos.

“A diferença não faz diferença”, diz uma música que tocou recentemente na minha playlist,  e eu concordo. Não deveria fazer. Ser diferente nos caracteriza em meio à multidão, e só.

Somos iguais em tantas coisas, em tantos jeitos e em tantas crenças, que justamente
aquela que não é igual, não deveria ter tanto destaque negativo em meio às outras.
O LEO me ensinou muito sobre isso nos primeiros ALs sem que alguém me dissesse uma palavra sobre. Que diferença fazia saber que o menino alí do lado era ateu, se ele tinha a
mesma doçura que eu pra conversar com os idosos no asilo? Que importava se a menina
alí tinha cinco piercings se ela era uma secretária maravilhosa? A diferença chama a
atenção à primeira vista, mas o que marca de verdade quando nos aproximamos alguém
são as atitudes, e nisso também somos diversos, porém muito parecidos.

Cada momento que vivemos aqui nos possibilita conhecer e fazer amigos que não
conheceríamos no nosso dia a dia, e a diversidade, inclusive de idade, é o que enriquece  um clube. A pluralidade de opiniões aumenta o leque de ideias, diversifica as campanhas e amplifica o potencial de atuação do clube.

E no final das contas a gente se dá conta, que não importa a última festa, o tamanho da
roupa, a identidade de gênero, a cor, o partido político, a religião... quando literalmente
vestimos a camiseta do LEO pra uma reunião, campanha ou evento, somos Leos, e isso
nos torna iguais, apesar de diferentes, e por isso únicos.

Margrid Geli Oliveira Vendruscolo
LEO Igrejinha