quinta-feira, 6 de junho de 2019

Mudança de pensamento

Mudança de pensamento 

“SUS irá oferecer cirurgias de troca de sexo.”
‘Meu Deus, com tantos problemas de saúde, o SUS vai gastar com isso?’
“Cotas para negros em concursos públicos.”
‘Mas já não basta cotas em universidades? Isso sim que é segregação, é atestar
que eles não são capazes.’
“Veja como está a transformação de Thammy Miranda.”
‘‘Nossa, era tão linda, pra que ela faz essas coisas?’’
“Professora encontra bebê recém-nascido em lixeira perto de escola.”
‘Vagabunda! Na hora de dar não reclamou. Não se preveniu porque não quis.
Tantas formas de prevenir uma gravidez. Tanta gente que quer um filho e não
consegue.’

Notícias reais, que li ou ouvi ao longo dos anos. Reações tão reais quanto.
Elas aconteceram há 12, 10, talvez 4 anos atrás. Não sei.
Me envergonham? Com certeza.
Mas ao mesmo tempo, sinto orgulho.
Orgulho em saber que em algum momento após cada uma dessas notícias, e de tantas outras, eu não me fechei, não me tranquei na minha bolha particular.
Eu aceitei ler a respeito, ouvir a opinião das pessoas e também seus relatos pessoais. Passei a tentar compreendê-las. Entendê-las.
Como uma vez disse um professor meu “a gente não deve aceitar tudo, mas deve
entender.”
Não aceitar que uma criança seja jogada fora, mas entender que tiveram muitos
acontecimentos na vida dessa mãe, para que ela chegasse nesse ponto. Talvez ela
nunca tenha querido ser mãe. Tenha sido abandonada e estivesse sozinha. Tenha
surtado. Tivesse qualquer problema psicológico. Eu não sei, a maioria das pessoas que aponta o dedo pra julgar, também não sabe. Mas o julgamento acontece.

Hoje, continuo achando a atitude errada, mas consigo entender que alguma coisa
aconteceu. E que essa mãe certamente precisava de uma ajuda que não teve.
Um dia eu entendi que as pessoas não trocam de gênero apenas por um capricho. Elas o fazem porque sofrem sendo algo que não são.
Eu não sei qual é esse sentimento, mas sei que ele existe. Não cabe a mim ou a
ninguém achar errado, não natural, ou tantas outras coisas que se ouve. Disforia de
gênero é algo cientificamente comprovado, e não vai ser o Joãozinho que está no
Ensino Médio, ou a Mariazinha que faz faculdade de administração que vai poder
contestar isso.
A nós, não especialistas no assunto, não nos cabe achar absolutamente nada, apenas respeitar.
Outro dia, também entendi que racismo inverso não existe, que aquela ofensa que um dia ouvi, era apenas uma pessoa babaca sendo babaca. Que eu nunca vou perder uma oportunidade ou ser falsamente acusada de algum crime, apenas pela cor que tenho, dentre tantas outras coisas.
Todos nascemos desprovidos de preconceitos, porém, isso vai mudando conforme a gente cresce, conforme as pessoas que fazem parte da nossa vida. Minhas mudanças ocorreram porque entendi que não sou dona da razão. Porque algumas pessoas, que eram muito importantes para mim, saíram da minha vida, e tantas outras entraram.
Somos fruto das interações que temos com o mundo. E eu espero que meu mundo
esteja sempre em constante movimento, pra que eu sempre mude.

Maiara Borges dos Santos
LEO Clube Lajeado Florestal
Distrito LEO LD-2
AL 2018/2019

Um comentário:

  1. Uma reflexão muito bem feita. Eu também desejo que o mundo realmente evolua. Que possamos um dia viver em paz com todos. Respeitando as diferenças, inerentes a nossa condição humana. É tanta coisa que gostaria de falar, mas vou me concentrar em elogiar essa instrução. Parabèns Maiara!!!Omar Benedetti, VDG LD-2

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